segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Clamidofilose Aviária

A clamidofilose é uma doença transmissível que afeta não só as aves, mas também ao homem, caracterizando-a como uma zoonose. Já foi relatada em aproximadamente 160 espécies de aves, sendo os integrantes da família Psittaciformes os representantes de cerca de 25% destas espécies. Nos psitacídeos, esta doença pode ser denominada psitacose ou febre dos papagaios, já em outras aves também é chamada de ornitose.

Seu agente etiológico é a bactéria Gram negativa Chlamydophila psittaci, um microrganismo intracelular obrigatório que acomete aves, répteis e mamíferos, e que possui um ciclo completo de vida que dura entre 48 a 72 horas, explicando a capacidade de produzirem infecções prolongadas e geralmente sub-clínicas.

Em virtude do pequeno tamanho e do parasitismo intracelular obrigatório, as clamídias foram confundidas com vírus ou com Rikettsias até os anos de 1960, sendo denominadas Miyagawanella ornithosis, Bedsonia e Neo-Rikettsia.

A principal via de transmissão de aves cativas ocorre através da inalação do organismo em forma de aerossol de fezes secas ou secreções respiratórias de aves infectadas. Porém, outras formas de infecção são atribuídas à ingestão água ou alimentos contaminados pelo microrganismo. A virulência e patogenicidade variam conforme a cepa infectante, grau de exposição e fatores relativos ao hospedeiro e ao ambiente.

Os sintomas que a caracterizam são vários, desde a doença respiratória, sinusite e conjuntivite, à diarreia e dilatação abdominal, também ocorrendo infecções assintomáticas. Não há sinais patognomônicos para clamidofilose aviária, por isso a doença é facilmente confundida com infecções bacterianas e virais, apresentando infecções severas com altas taxas de mortalidade.

As aves doentes podem apresentar depressão, anorexia, desidratação, blefarite, ceratoconjuntivite, hipotermia, urticária, asas pendentes e tremores, além de transtornos respiratórios, digestivos, urinários e neurológicos. Para muitos pesquisadores, dependendo da evolução destes sinais clínicos, a doença pode ser classificada em superaguda, aguda, crônica e inaparente.

O diagnóstico pode ser feito através do histórico, sinais clínicos e, atualmente, a utilização do método de Reação em Cadeia da Polimerase (PCR). O exame radiográfico evidenciando esplenomegalia ou hepatomegalia, em aves que apresentam os sinais clínicos supracitados, pode ser sugestivo de clamidofilose aviária. O isolamento da Chlamydophila sp por cultura requer laboratórios especializados, sendo de pouca utilidade prática na rotina da clínica veterinária.

O tratamento é obtido principalmente através do emprego de antibióticos corretos, respeitando suas ações, vias, doses, frequências e períodos de administração. Além disso, outros cuidados devem ser tomados, como p. ex. a manutenção higiênica diária das instalações e seus utensílios, evitando acúmulo de dejetos e restos alimentares; a observação e o isolamento de todos os filhotes nascidos de mãe e/ou pai contaminados; a quarentena para aves recém-adquiridas; um excelente manejo ambiental e dietético, assim como o já citado sanitário; e tratar e isolar todas as aves positivas ou suspeitas do plantel.

A clamidofilose representa uma das principais zoonoses de origem aviária, apesar da incidência em humanos ser muito baixa quando comparada ao número estimado de aves portadoras. Sendo assim, deve ser considerada como possibilidade de diagnóstico sempre que houver casos de aves doentes ou casos de mortalidade súbita.

Dr. Rodrigo Filippi Prazeres
Médico Veterinário, CRMV/SP 19978

sábado, 30 de abril de 2011

Biologia e Manejo de Coelhos Domésticos em Cativeiro Domiciliar

Introdução

O coelho doméstico, também conhecido como coelho europeu (Oryctolagus cuniculus Linnaeus, 1758), é uma espécie de lagomorfo da família Leporidae originário da Península Ibérica no extremo sudoeste da Europa, porém, devido as suas características altamente prolíficas, espalhou-se por todo o continente e, nos últimos séculos, por diversas regiões do mundo.

Trata-se de uma espécie de hábitos gregários, que cava galerias subterrâneas, possui alimentação herbívora e atividade principalmente durante a noite e horários crepusculares. Muitos pesquisadores relatam um distante parentesco entre os coelhos e os mamíferos ungulados.

Atualmente, diversos tamanhos, colorações de pelagens e raças estão disponíveis no mercado pet, graças aos trabalhos realizados durante séculos através da seleção artificial e cruzamentos com objetivo principal na obtenção de melhorarias nos animais destinados a produção de carne, pele e biotério de laboratórios.

A semelhança entre coelho e lebre é tão grande que mesmo especialistas podem confundi-los, tomando um pelo outro, fato que se verifica com a chamada lebre-belga, que se trata de um coelho, ou com o chamado coelho-americano, que na realidade é uma lebre.

Primeiramente, os coelhos nascem desprovidos de pelos, necessitam de cuidados maternos e possuem as orelhas menores que a cabeça, enquanto as lebres nascem com pelos, com seus olhos abertos, possuem orelhas maiores que a cabeça e sempre com coloração preta em sua ponta.

Outras diferenças em relação aos aspectos biológicos gerais, como p. ex. a maneira de confecção dos ninhos, número de láparos, coloração da carne ao abate e em seus respectivos números cromossômico, também podem ser observadas.

Não foi relatado, até o presente momento, nenhum cruzamento fértil entre coelhos e lebres, pois os coelhos apresentam 44 pares de cromossomos e as lebres apresentam 48 pares.

Os coelhos diferem dos roedores por possuírem dois pares de dentes incisivos superiores, sendo que estes apresentam apenas um único par. A fórmula dentária encontrada nos coelhos domésticos é 2x (I 2/1; C 0/0; P3/2; M 3/3), totalizando 28 dentes.

Assim como os roedores, também apresentam crescimento contínuo dos dentes, sendo que os incisivos podem crescer por cerca de 10 a 12 cm ao ano.

Quando mantidos em condições de manejo nutricional e ambiental inadequados, podem apresentar problemas odontoestomatológicos ligados a maloclusão bucal. Algumas linhagens desenvolvidas em laboratório também apresentam esta afecção, porém com características de ordem genética.

Manejo Ambiental

Existem diversos tipos de alojamento disponíveis no mercado pet para coelhos de estimação. O mais comum é a gaiola de arame, que deve ser solidamente construída e montada, livre de farpas ou outras superfícies cortantes, tamanho adequado e de fácil limpeza e higienização.

Recinto de madeira não é uma boa opção, pois além dos animais roerem com muita facilidade, o material é poroso e de difícil desinfecção, acumulando resíduos e excretas repletos de microrganismos.

Os coelhos necessitam de 4 horas diárias de exercícios, sendo assim o proprietário terá que estabelecer uma rotina de brincadeiras com momentos de soltura para seus animais.

Salientando que tudo deve ser supervisionado com o intuito de evitar acidentes domésticos, como p. ex. ingestão de plantas ou substâncias tóxicas, mordeduras em cabos e fios elétricos provocando choques, afogamento em piscinas, fraturas, ataques de cães e gatos domésticos, dentre outros.

Os comedouros devem ser de material resistente e de fácil higienização, localizados em pontos de fácil acesso para o animal.

Os bebedouros automáticos são frequentemente empregados, representando fácil higienização e manejo diário, e também evitando que os animais fiquem úmidos, predispondo principalmente a doenças de pele.

A maravalha ou serragem é o substrato mais utilizado por diversos proprietários, sendo o seu custo barato quando comparado a outros materiais. Em instalações comerciais, normalmente o substrato não é utilizado, pois as gaiolas ficam suspensas e todas excretas dos animais caem no solo que é lavado diariamente.

A manutenção de coelhos em jardins ou quintais também é frequente, lembrando que alguns cuidados devem ser estabelecidos para evitar os já citados acidentes.

Manejo Nutricional

Os coelhos são animais herbívoros, alimentando-se em vida livre de diversos tipos de matéria vegetal, incluindo folhas, capim, ervas, cascas de árvores e tubérculos.

Em cativeiro, normalmente é oferecida dieta peletizada própria para a espécie, contendo alto valor de fibras (22,5%) e 14,0 a 17,0% de proteínas.

Porém, a maior parte da dieta deve ser à base de volumoso, ou seja, folhas, capins, verduras e alguns vegetais.

A alimentação inadequada e/ou desbalanceada poderá ocasionar desnutrição, enteropatias, maloclusão dentária dentre outras afecções.

Alimentos expressamente proibidos são chocolates, doces, bolachas, batatas cruas, tomates, rações para roedores, pães e massas, carnes, embutidos etc.

A água deve ser oferecida diariamente e não requer tratamento especial, contanto que seja fresca, limpa e preferencialmente filtrada. O consumo hídrico normal é cerca de 10mL a cada 100g de peso vivo, sendo que fêmeas em períodos de lactação podem ingerir até 90mL a cada 100g de peso vivo do animal.

Para um melhor manejo nutricional, recomenda-se a oferta dos seguintes alimentos:

Rações peletizadas: Específica para coelhos, porém em pouca percentagem diária, cerca de 90 a 120g ao dia, dependendo do porte do animal.

Verduras: Couve, acelga, escarola, almeirão, chicória, mostarda, repolho, brócolis, espinafre etc.

Folhas: Folha de amoreira, folha de bananeira, folha de beterraba, folha de mangueira, folha jabuticabeira, folha de goiabeira, folha de cenoura, folha de couve-flor etc.

Vegetais: Cenoura, pimentão, ervilha, aipo, abóbora, nabo etc.

Frutas: Maçã, manga, pera, banana, amora etc.

Sementes e Grãos: Aveia, ervilhas, nozes, grão de bico, soja etc.

Coelhos também são animais famosos por realizarem a cecotrofia, ou seja, a ingestão realizada diretamente do ânus de fezes noturnas amolecidas, sendo estas altamente ricas em vitaminas e aminoácidos essenciais para suas sobrevivências.

Lembrando que todo e qualquer tipo de alimento ofertado deve ser de boa origem, não conter mofo ou data de validade vencida, assim como a introdução de um novo alimento deve ser feita de maneira gradativa.

Manejo Reprodutivo

Os machos de coelhos possuem abertura genital arredondada e protuberante, enquanto nas fêmeas a vulva é alongada e pouco evidente. O estiramento da região perineal possibilita uma clara identificação do ânus e estruturas genitais, permitindo a exposição do pênis. As bolsas inguinais dos machos adultos são desprovidas de pelos e localizam-se lateralmente à linha anogenital.

Outras características morfológicas, como p. ex. cabeça mais volumosa nos machos e as dobras de pele sob a mandíbula mais volumosas nas fêmeas, integram os aspectos de dimorfismo sexual da espécie.

As fêmeas apresentam ovulação induzida e podem parir desde os seis meses de idade, contudo possuem períodos de receptividades de 7 a 10 dias, seguidos por um período de 1 a 2 dias de inatividade, durante os quais os folículos novos amadurecem.

O período de gestação dura pouco menos de seis semanas, cerca de 30 dias, e em cada uma das quatro ou seis ninhadas anuais nascem de quatro a oito filhotes, que são chamados de láparos.

Os láparos nascem pelados, cegos e surdos, e em cerca de dez dias de vida já estão totalmente aptos ao meio. Durante todo este período, a fêmea os mantém no ninho que cava no solo, forrando-o com capim e seus próprios pelos. Ela somente deixa o ninho em busca de alimento, porém nunca se distancia do mesmo. Após duas semanas do nascimento, os láparos abandonam o ninho.

Cerca de 10 a 12 horas após ter parido a ninhada, a fêmea já encontra-se apta para uma nova cópula, mas em 60% das gestações os embriões são reabsorvidos pelo organismo da mãe, principalmente quando há déficits no manejo ambiental, nutricional e sanitário das matrizes.

Manejo Sanitário

Até o presente momento não existem vacinas disponíveis para o uso em coelhos no Brasil. Contudo, exames clínicos e laboratoriais periódicos, principalmente o coproparasitológico, são recomendados em um intervalo mínimo de 6 meses.

Todo o recinto ou gaiola devem ser limpos diariamente, lavados com água e sabão, desinfetados com hipoclorito de sódio a 5% no volume de 30mL diluído em 1L de água e terem seus substratos trocados.

Cuidados especiais são necessários com os láparos e animais desmamados. O ninho deve ser desinfetado antes de ser colocado na gaiola e mantido limpo durante seu uso. Os animais desmamados devem permanecer em seus respectivos recintos durante algum tempo, diminuindo o estresse representado pelo desmame.

Aconselhamos que em qualquer mudança perceptível no comportamento do seu animal, este deve ser encaminhando para um médico veterinário capacitado a avaliar e tratar da saúde do seu coelho.

Lembramos também que o contato dos seres humanos com animais domésticos ou exóticos tem aumentado consideravelmente, podendo influenciar o aumento ou o surgimento de zoonoses, doenças transmitidas de animais para os homens. Sendo assim, medidas básicas de higiene devem ser estabelecidas para uma boa convivência com seu pet.

Legislação

Os coelhos europeus e suas raças são considerados animais domésticos para fins operacionais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA. Sendo assim, a sua posse e manutenção são permitidas sem a necessidade de documentação específica.

Porém, é expressamente proibida a soltura ou introdução de animais da fauna exótica natureza, estando o infrator sujeito às penalidades previstas nas leis n. 6.938/81 e n. 9.605/98.

Dr. Rodrigo Filippi Prazeres
Médico Veterinário, CRMV/SP 19978

Referências Bibliográficas

Harkness JE, Wagner JE. Biologia e clínica de coelhos e roedores. 3ª ed. São Paulo: Editora Roca; 1993. 238p.

Quesenberry KE, Carpenter JW. Ferrets, rabbits, and rodents – clinical medicine and surgery. 2nd ed. Missouri: Saunders; 2003. 461p.

Sitges PGI. Pequenos mamíferos. In: Aguilar R, Hernández-Divers SM, Hernández-Divers SJ. Atlas de medicina, terapêutica e patologia de animais exóticos. 1ª ed. Trad. de Rodrigo Fernandez Diaz e Luciana Ohara Camignotto. São Caetano do Sul: Interbook; 2006. p.265-315.

Vilardo FES. Lagomorpha (coelhos, lebres e lebres-assobiadoras). In: Cubas ZS, Silva JCR, Catão-Dias JL. Tratado de animais selvagens – medicina veterinária. 1ª ed. São Paulo: Editora Roca; 2007. pp.415-431.

Walker EP. Mammals of the World. 3rd ed., Vol. II. Baltimore: Johns Hopskins University Press; 1975. 1500p.




quinta-feira, 14 de abril de 2011

Síndrome de Edema em Anfíbios

A Síndrome de Edema em Anfíbios é caracterizada pelo preenchimento de líquido acelular com baixa concentração de proteínas em cavidade celomática e espaço subcutâneo.

Apresenta como fatores predisponentes as dermatites, as nefropatias, as enfermidades hepáticas e a utilização de água destilada ou obtida mediante osmose inversa em recintos elaborados para a manutenção destes animais.

Em alguns casos, mesmo a água filtrada pode apresentar uma diluição excessiva para um anfíbio, fazendo com que o mesmo perca a capacidade de captar solutos dissolvidos na água para manter sua osmolaridade plasmática.

Os sinais clínicos são o hidroceloma, aumento de volume de consistência líquida no espaço subcutâneo e o aumento de peso do animal, podendo triplicar em casos graves.

O diagnóstico é baseado na avaliação do líquido aspirado, sendo que este apresenta baixos níveis de proteínas, menor que 1g/dL, e também possui característica acelular. Também devem ser descartardas as enfermidades dérmicas, hepáticas e renais, assim como as septicemias.

O tratamento é baseado em banhos do animal em soluções de alta osmolaridade, como p. ex. a solução salina NaCl a 0,9%, por cerca de 20-30 minutos a cada 8 horas, até remissão completa do quadro. Em casos de doença secundária, diagnosticar e tratar a causa principal, como p. ex. as dermatites e nefropatias.

O uso de soluções osmóticas equilibradas, como p. ex. águas de reservatórios artificiais, são sugeridos como método preventivo da Síndrome de Edema em Anfíbios.

Dr. Rodrigo Filippi Prazeres
Médico Veterinário - CRMV/SP 19978 


sábado, 12 de março de 2011

Estomatite Fúngica em Répteis

As doenças fúngicas são relatas em todas as ordens e subordens da classe Reptilia, exceto na ordem Rhynchocephala, cujo único representante é o tuatara (gênero Sphenodon). São, em sua maioria, secundárias a outras infecções bacterianas ou fatores predisponentes como estresse, manejo inadequado em cativeiro, má nutrição e uso prolongado de antimicrobianos.

Muitos autores consideram a baixa incidência de doenças fúngicas em répteis relacionada à falta de diagnóstico, alegando que provavelmente existam mais processos fúngicos do que o estimado em literatura, sendo as dermatomicoses as mais relatadas e estudadas. Destacam-se Trichophyton spp., Microsporum spp., Geotrichum spp., Chrysosporium spp., Cladosporium spp., Nannizziopsis vriesii, Fusarium spp. e Trichosporon spp..

Todos os autores pesquisados preconizam que sempre que um réptil for encaminhado para atendimento veterinário, deve-se realizar exame físico completo. Primeiramente o animal deve ser examinado a distância, observando-se a simetria e contornos faciais. Se a espécie examinada utiliza sua língua como órgão sensorial deve-se observar o movimento, freqüência e aparência. A cabeça deve ser observada, examinando possíveis áreas de ulcerações, descoloração e sangramentos. A boca deve ser aberta delicadamente, utilizando-se uma pequena espátula descartável de madeira, uma espátula de uso odontológico ou um espéculo do tipo utilizado para abrir bico de aves. O instrumento deve ser inserido entre a mandíbula e maxila das serpentes, segurando-se o animal pela base do crânio e com os dedos apertando gentilmente articulação têmporo-mandibular para manter a boca aberta. Deve-se observar a coloração da mucosa oral, presença de hemorragia, características das secreções (cor, viscosidade, quantidade e odor), simetria, presença de alterações (fraturas, corpo estranho, parasitos, material caseoso e cálculo dental), dentes, posição da glote e base da língua (rostral em serpentes, média em lagartos e caudal em testudines e crocodilianos) e aspecto da faringe.

O exame da cavidade oral pode revelar estomatites, abscessos, corpos estranhos, secreções, petéquias, icterícia, parasitos, massas e edema entre outros problemas, como granulomas bacterianos ou fúngicos e neoplasias. Doença dental pode estar associada a estomatite e osteomielite.

As principais afecções orais que podem acometer serpentes são distúrbios congênitos como mal-formações, traumas orais ou rostrais, estomatites, neoplasias e, raramente, distúrbios nutricionais.

A estomatite é muito comum em répteis e caracteriza-se por inflamação da mucosa, decorrente de infecção, e pode incluir gengivite, glossite, palatite e queilite. Infecções bacterianas, fúngicas e virais são conhecidas por causar estomatite.

Relatos de doenças fúngicas são descritos para todos os répteis, sendo que a maioria das infecções fúngicas em lagartos e serpentes é atribuída aos fungos do solo. Como em outros animais, infecções fúngicas estão associadas a comprometimento do sistema imunológico. Candida albicans é oportunista e pode, secundariamente, invadir o trato alimentar superior de répteis, especialmente em lagartos. Algumas infecções fúngicas são sistêmicas e fatais.

Fungos como Aspergillus sp., Microsporum sp. e leveduras podem ocasionalmente crescer em culturas de esfregaços orais de répteis, mas tais microorganismos não são considerados causas primárias da enfermidade. Osteomielite fúngica periodontal foi descrita em camaleão (Furcifer pardalis), e estomatite fúngica causada por Sporothrix schenkii e Paecilomyces sp. foi diagnosticada em uma população de cascavéis (Sistrurus miliarius barbouri) que apresentavam severa dermatite necrótica e estomatite. Chromomyces foi isolado em mandíbula de quelônios e tem sido encontrada em lesões granulomatosas em tartarugas. Fatores ambientais, incluindo umidade muito elevada, baixa temperatura ambiental, má nutrição, alta densidade demográfica e falta de higiene do recinto contribuem para o desenvolvimento de infecções fúngicas.

O diagnóstico deve ser realizado por meio de culturas ou histopatologia. Radiografias da região afetada podem ser úteis na detecção de osteomielite fúngica. O tratamento consiste na administração sistêmica de antifúngicos, no mínimo, 4 a 6 semanas e pode também incluir antibioticoterapia de amplo espectro para tratamento de infecções bacterianas secundárias. Muitas infecções fúngicas podem ser sistêmica e potencialmente fatais nos répteis.

Dr. Rodrigo Filippi Prazeres
Médico Veterinário - CRMV/SP 19978

terça-feira, 1 de março de 2011

Prolapso Peniano em Quelônios

Os machos de quelônios apresentam um único pênis como órgão copulador, sendo este expansível, grande, liso e de coloração escura que pode variar do rosa ao roxo, ou preto, dependendo da espécie.

Anatomicamente consiste de uma glande e dois corpos cavernosos que formam uma calha por onde passa o sêmen. Através da musculatura retratora, o órgão fica retraído dentro da cauda, caudal à abertura da cloaca, posicionado no assoalho ventromedial do proctodeo. Em algumas espécies, observa-se que o tamanho da cauda do macho é maior em relação a cauda da fêmea.

O pênis dos quelônios difere do pênis dos mamíferos por não possuir uretra, sendo, portanto, um órgão com função unicamente copuladora, quando é exteriorizado por pressão sanguínea.

O prolapso peniano é uma condição comum dos quelônios, sendo a exposição prolongada do pênis, com conseqüente lesão por abrasão e traumatismo, um problema comum em quelônios terrestres.

As principais causas de prolapso peniano em quelônios incluem traumas, tração durante a cópula, mordeduras, infecção, inflamação, hiperparatiroidismo nutricional secundário, déficit neurológico envolvendo o músculo retrator do pênis ou o esfíncter cloacal, enterites parasitárias, tenesmo, impactação cloacal por corpos estranhos e urólitos de vesícula urinária ou cloaca.

Os diagnósticos diferenciais para o prolapso peniano são prolapso de cloaca, vesícula urinária e intestino. Se o tecido prolapsado parecer viável no momento da apresentação clínica, pode ser realizada limpeza com solução fisiológica e a reintrodução do órgão na cloaca, sendo por muitas vezes necessária à aplicação de vasoconstritores e a utilização de suturas na cloaca para não ocorrer recidiva imediata. É importante que a sutura não impeça a passagem normal de uratos e material fecal.

Porém, na maioria dos casos, os animais são trazidos tardiamente com exposição dos tecidos que se apresentam edemaciados e com regiões de necrose, infecções bacterianas e exsudato inflamatório, impossibilitando a redução do pênis. Nestes casos, a única alternativa é a penectomia.

Dr Rodrigo Filippi Prazeres
Médico Veterinário - CRMV/SP 19978

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Distocia em Chinchila

A chinchila (Chinchilla lanigera Bennett, 1829), é uma espécie de roedor da família Chinchilidae originária da América do Sul, com ocorrência relatada no Peru, Bolívia, Chile e Argentina.

Porém, hoje a espécie encontra-se praticamente reduzida a algumas colônias dispersas, confinadas nos mais altos cumes Andinos.

Atualmente é mantida comumente em cativeiro como pet e, segundo historiadores, essa criação teve início nos idos de 1920 por Matthew Chapman, após este levar 13 espécimes para a Califórnia, sendo estes os progenitores da maioria dos exemplares atuais nos Estados Unidos da América.

As fêmeas de chinchilas apresentam útero com dois cornos uterinos e duas cervizes. A membrana vaginal permanece aberta apenas durante o parto e 2 a 4 dias durante o estro. Apresentam três pares de glândulas mamárias, sendo um par inguinal e dois pares torácico laterais.

As chinchilas são poliéstricas sazonais. O período de gestação é em média de 111 dias. Geralmente o parto ocorre nas primeiras horas da manhã e raramente à noite, quando a fêmea dá a luz a dois filhotes.

Dentre as desordens do sistema reprodutor, podemos citar a reabsorção fetal, toxemia da gestação, gravidez ectópica, metrite, piometra, e, quando comparada a outros roedores, raramente apresentam distocias. As causas mais comuns de distocias em chinchilas são fetos grandes ou mal posicionados e inércia uterina.

Os sinais clínicos incluem prostação, vocalização e cuidados excessivos com a região genital.

Em casos mais simples, a utilização do fórceps obstétrico felino pode corrigir a desordem. Porém, recomenda-se intervenção cirúrgica após 4 horas de tentativas frustrantes de parto.

Dr Rodrigo Filippi Prazeres
Médico Veterinário - CRMV/SP 19978

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Anorexia em Répteis Mantidos em Cativeiro

Anorexia é um sinal clínico que pode ser definido como a perda do apetite, sendo que, em répteis mantidos em cativeiro, ela pode estar associada a amplas variedades de causas não-infecciosas e causas infecciosas.

Na maioria dos casos a anorexia tem relação direta com o manejo inadequado e freqüentemente o animal não apresenta nenhuma enfermidade. Temperatura baixa, dieta inapropriada, ambiente inadequado e estresse são exemplos comuns dos principais erros cometidos na manutenção de répteis em cativeiro.

Outras possíveis causas não-infecciosas de anorexia em répteis são brumação, ecdise, época reprodutiva, distocias, ingestão de corpos estranhos e a síndrome da má-adaptação.

Em relação às causas infecciosas, as desordens gastrintestinais de etiologia bacteriana comumente levam o animal apresentar anorexia. Estomatite ulcerativa e gastrenterites são exemplos de doenças que apresentam anorexia como sinal clínico clássico.

As parasitoses por cestódeos, nematódeos e protozoários, principalmente pelo Cryptosporidium sp., são freqüentes em animais recém-capturados, podendo ocasionar anorexia.

Doenças virais como herpesvírus em quelônios e paramyxovírus, adenovírus e herpesvírus em serpentes, também já foram relatadas como causas de anorexia nas espécies acometidas.

Algumas doenças respiratórias, como a pneumonia bacteriana, a micoplasmose dos jabutis do deserto (Gopherus sp.) e a pneumonia aspirativa, também podem levar o animal a apresentar perda de apetite, prejudicando ainda mais seu estado clínico.

O diagnóstico da causa da anorexia deve ser baseado em uma excelente anamnese e um exame físico completo. Alguns exames laboratoriais deverão ser solicitados, conforme a suspeita clínica, sendo comumente realizados hemograma, bioquímica sérica, exame coproparasitológico, cultura e antibiograma de possíveis secreções ou fezes, radiografias em suspeitas de pneumopatias, distocias e ingestão de corpos estranhos, citologia de massas, ultra-sonografia e endoscopia com biópsia.

A anorexia é um sinal clínico, não uma doença, logo o clínico deverá fechar diagnóstico da causa primária e tratá-la. Porém, o adequado suporte nutricional deverá ser realizado através de alimentação forçada via oral ou tubo esofágico.

O prognóstico é variável, pois depende da resposta do animal ao tratamento da causa ou causas da anorexia.

Dr Rodrigo Filippi Prazeres
Médico Veterinário - CRMV/SP 19978