sábado, 12 de março de 2011

Estomatite Fúngica em Répteis

As doenças fúngicas são relatas em todas as ordens e subordens da classe Reptilia, exceto na ordem Rhynchocephala, cujo único representante é o tuatara (gênero Sphenodon). São, em sua maioria, secundárias a outras infecções bacterianas ou fatores predisponentes como estresse, manejo inadequado em cativeiro, má nutrição e uso prolongado de antimicrobianos.

Muitos autores consideram a baixa incidência de doenças fúngicas em répteis relacionada à falta de diagnóstico, alegando que provavelmente existam mais processos fúngicos do que o estimado em literatura, sendo as dermatomicoses as mais relatadas e estudadas. Destacam-se Trichophyton spp., Microsporum spp., Geotrichum spp., Chrysosporium spp., Cladosporium spp., Nannizziopsis vriesii, Fusarium spp. e Trichosporon spp..

Todos os autores pesquisados preconizam que sempre que um réptil for encaminhado para atendimento veterinário, deve-se realizar exame físico completo. Primeiramente o animal deve ser examinado a distância, observando-se a simetria e contornos faciais. Se a espécie examinada utiliza sua língua como órgão sensorial deve-se observar o movimento, freqüência e aparência. A cabeça deve ser observada, examinando possíveis áreas de ulcerações, descoloração e sangramentos. A boca deve ser aberta delicadamente, utilizando-se uma pequena espátula descartável de madeira, uma espátula de uso odontológico ou um espéculo do tipo utilizado para abrir bico de aves. O instrumento deve ser inserido entre a mandíbula e maxila das serpentes, segurando-se o animal pela base do crânio e com os dedos apertando gentilmente articulação têmporo-mandibular para manter a boca aberta. Deve-se observar a coloração da mucosa oral, presença de hemorragia, características das secreções (cor, viscosidade, quantidade e odor), simetria, presença de alterações (fraturas, corpo estranho, parasitos, material caseoso e cálculo dental), dentes, posição da glote e base da língua (rostral em serpentes, média em lagartos e caudal em testudines e crocodilianos) e aspecto da faringe.

O exame da cavidade oral pode revelar estomatites, abscessos, corpos estranhos, secreções, petéquias, icterícia, parasitos, massas e edema entre outros problemas, como granulomas bacterianos ou fúngicos e neoplasias. Doença dental pode estar associada a estomatite e osteomielite.

As principais afecções orais que podem acometer serpentes são distúrbios congênitos como mal-formações, traumas orais ou rostrais, estomatites, neoplasias e, raramente, distúrbios nutricionais.

A estomatite é muito comum em répteis e caracteriza-se por inflamação da mucosa, decorrente de infecção, e pode incluir gengivite, glossite, palatite e queilite. Infecções bacterianas, fúngicas e virais são conhecidas por causar estomatite.

Relatos de doenças fúngicas são descritos para todos os répteis, sendo que a maioria das infecções fúngicas em lagartos e serpentes é atribuída aos fungos do solo. Como em outros animais, infecções fúngicas estão associadas a comprometimento do sistema imunológico. Candida albicans é oportunista e pode, secundariamente, invadir o trato alimentar superior de répteis, especialmente em lagartos. Algumas infecções fúngicas são sistêmicas e fatais.

Fungos como Aspergillus sp., Microsporum sp. e leveduras podem ocasionalmente crescer em culturas de esfregaços orais de répteis, mas tais microorganismos não são considerados causas primárias da enfermidade. Osteomielite fúngica periodontal foi descrita em camaleão (Furcifer pardalis), e estomatite fúngica causada por Sporothrix schenkii e Paecilomyces sp. foi diagnosticada em uma população de cascavéis (Sistrurus miliarius barbouri) que apresentavam severa dermatite necrótica e estomatite. Chromomyces foi isolado em mandíbula de quelônios e tem sido encontrada em lesões granulomatosas em tartarugas. Fatores ambientais, incluindo umidade muito elevada, baixa temperatura ambiental, má nutrição, alta densidade demográfica e falta de higiene do recinto contribuem para o desenvolvimento de infecções fúngicas.

O diagnóstico deve ser realizado por meio de culturas ou histopatologia. Radiografias da região afetada podem ser úteis na detecção de osteomielite fúngica. O tratamento consiste na administração sistêmica de antifúngicos, no mínimo, 4 a 6 semanas e pode também incluir antibioticoterapia de amplo espectro para tratamento de infecções bacterianas secundárias. Muitas infecções fúngicas podem ser sistêmica e potencialmente fatais nos répteis.

Dr. Rodrigo Filippi Prazeres
Médico Veterinário - CRMV/SP 19978

terça-feira, 1 de março de 2011

Prolapso Peniano em Quelônios

Os machos de quelônios apresentam um único pênis como órgão copulador, sendo este expansível, grande, liso e de coloração escura que pode variar do rosa ao roxo, ou preto, dependendo da espécie.

Anatomicamente consiste de uma glande e dois corpos cavernosos que formam uma calha por onde passa o sêmen. Através da musculatura retratora, o órgão fica retraído dentro da cauda, caudal à abertura da cloaca, posicionado no assoalho ventromedial do proctodeo. Em algumas espécies, observa-se que o tamanho da cauda do macho é maior em relação a cauda da fêmea.

O pênis dos quelônios difere do pênis dos mamíferos por não possuir uretra, sendo, portanto, um órgão com função unicamente copuladora, quando é exteriorizado por pressão sanguínea.

O prolapso peniano é uma condição comum dos quelônios, sendo a exposição prolongada do pênis, com conseqüente lesão por abrasão e traumatismo, um problema comum em quelônios terrestres.

As principais causas de prolapso peniano em quelônios incluem traumas, tração durante a cópula, mordeduras, infecção, inflamação, hiperparatiroidismo nutricional secundário, déficit neurológico envolvendo o músculo retrator do pênis ou o esfíncter cloacal, enterites parasitárias, tenesmo, impactação cloacal por corpos estranhos e urólitos de vesícula urinária ou cloaca.

Os diagnósticos diferenciais para o prolapso peniano são prolapso de cloaca, vesícula urinária e intestino. Se o tecido prolapsado parecer viável no momento da apresentação clínica, pode ser realizada limpeza com solução fisiológica e a reintrodução do órgão na cloaca, sendo por muitas vezes necessária à aplicação de vasoconstritores e a utilização de suturas na cloaca para não ocorrer recidiva imediata. É importante que a sutura não impeça a passagem normal de uratos e material fecal.

Porém, na maioria dos casos, os animais são trazidos tardiamente com exposição dos tecidos que se apresentam edemaciados e com regiões de necrose, infecções bacterianas e exsudato inflamatório, impossibilitando a redução do pênis. Nestes casos, a única alternativa é a penectomia.

Dr Rodrigo Filippi Prazeres
Médico Veterinário - CRMV/SP 19978