sábado, 30 de abril de 2011

Biologia e Manejo de Coelhos Domésticos em Cativeiro Domiciliar

Introdução

O coelho doméstico, também conhecido como coelho europeu (Oryctolagus cuniculus Linnaeus, 1758), é uma espécie de lagomorfo da família Leporidae originário da Península Ibérica no extremo sudoeste da Europa, porém, devido as suas características altamente prolíficas, espalhou-se por todo o continente e, nos últimos séculos, por diversas regiões do mundo.

Trata-se de uma espécie de hábitos gregários, que cava galerias subterrâneas, possui alimentação herbívora e atividade principalmente durante a noite e horários crepusculares. Muitos pesquisadores relatam um distante parentesco entre os coelhos e os mamíferos ungulados.

Atualmente, diversos tamanhos, colorações de pelagens e raças estão disponíveis no mercado pet, graças aos trabalhos realizados durante séculos através da seleção artificial e cruzamentos com objetivo principal na obtenção de melhorarias nos animais destinados a produção de carne, pele e biotério de laboratórios.

A semelhança entre coelho e lebre é tão grande que mesmo especialistas podem confundi-los, tomando um pelo outro, fato que se verifica com a chamada lebre-belga, que se trata de um coelho, ou com o chamado coelho-americano, que na realidade é uma lebre.

Primeiramente, os coelhos nascem desprovidos de pelos, necessitam de cuidados maternos e possuem as orelhas menores que a cabeça, enquanto as lebres nascem com pelos, com seus olhos abertos, possuem orelhas maiores que a cabeça e sempre com coloração preta em sua ponta.

Outras diferenças em relação aos aspectos biológicos gerais, como p. ex. a maneira de confecção dos ninhos, número de láparos, coloração da carne ao abate e em seus respectivos números cromossômico, também podem ser observadas.

Não foi relatado, até o presente momento, nenhum cruzamento fértil entre coelhos e lebres, pois os coelhos apresentam 44 pares de cromossomos e as lebres apresentam 48 pares.

Os coelhos diferem dos roedores por possuírem dois pares de dentes incisivos superiores, sendo que estes apresentam apenas um único par. A fórmula dentária encontrada nos coelhos domésticos é 2x (I 2/1; C 0/0; P3/2; M 3/3), totalizando 28 dentes.

Assim como os roedores, também apresentam crescimento contínuo dos dentes, sendo que os incisivos podem crescer por cerca de 10 a 12 cm ao ano.

Quando mantidos em condições de manejo nutricional e ambiental inadequados, podem apresentar problemas odontoestomatológicos ligados a maloclusão bucal. Algumas linhagens desenvolvidas em laboratório também apresentam esta afecção, porém com características de ordem genética.

Manejo Ambiental

Existem diversos tipos de alojamento disponíveis no mercado pet para coelhos de estimação. O mais comum é a gaiola de arame, que deve ser solidamente construída e montada, livre de farpas ou outras superfícies cortantes, tamanho adequado e de fácil limpeza e higienização.

Recinto de madeira não é uma boa opção, pois além dos animais roerem com muita facilidade, o material é poroso e de difícil desinfecção, acumulando resíduos e excretas repletos de microrganismos.

Os coelhos necessitam de 4 horas diárias de exercícios, sendo assim o proprietário terá que estabelecer uma rotina de brincadeiras com momentos de soltura para seus animais.

Salientando que tudo deve ser supervisionado com o intuito de evitar acidentes domésticos, como p. ex. ingestão de plantas ou substâncias tóxicas, mordeduras em cabos e fios elétricos provocando choques, afogamento em piscinas, fraturas, ataques de cães e gatos domésticos, dentre outros.

Os comedouros devem ser de material resistente e de fácil higienização, localizados em pontos de fácil acesso para o animal.

Os bebedouros automáticos são frequentemente empregados, representando fácil higienização e manejo diário, e também evitando que os animais fiquem úmidos, predispondo principalmente a doenças de pele.

A maravalha ou serragem é o substrato mais utilizado por diversos proprietários, sendo o seu custo barato quando comparado a outros materiais. Em instalações comerciais, normalmente o substrato não é utilizado, pois as gaiolas ficam suspensas e todas excretas dos animais caem no solo que é lavado diariamente.

A manutenção de coelhos em jardins ou quintais também é frequente, lembrando que alguns cuidados devem ser estabelecidos para evitar os já citados acidentes.

Manejo Nutricional

Os coelhos são animais herbívoros, alimentando-se em vida livre de diversos tipos de matéria vegetal, incluindo folhas, capim, ervas, cascas de árvores e tubérculos.

Em cativeiro, normalmente é oferecida dieta peletizada própria para a espécie, contendo alto valor de fibras (22,5%) e 14,0 a 17,0% de proteínas.

Porém, a maior parte da dieta deve ser à base de volumoso, ou seja, folhas, capins, verduras e alguns vegetais.

A alimentação inadequada e/ou desbalanceada poderá ocasionar desnutrição, enteropatias, maloclusão dentária dentre outras afecções.

Alimentos expressamente proibidos são chocolates, doces, bolachas, batatas cruas, tomates, rações para roedores, pães e massas, carnes, embutidos etc.

A água deve ser oferecida diariamente e não requer tratamento especial, contanto que seja fresca, limpa e preferencialmente filtrada. O consumo hídrico normal é cerca de 10mL a cada 100g de peso vivo, sendo que fêmeas em períodos de lactação podem ingerir até 90mL a cada 100g de peso vivo do animal.

Para um melhor manejo nutricional, recomenda-se a oferta dos seguintes alimentos:

Rações peletizadas: Específica para coelhos, porém em pouca percentagem diária, cerca de 90 a 120g ao dia, dependendo do porte do animal.

Verduras: Couve, acelga, escarola, almeirão, chicória, mostarda, repolho, brócolis, espinafre etc.

Folhas: Folha de amoreira, folha de bananeira, folha de beterraba, folha de mangueira, folha jabuticabeira, folha de goiabeira, folha de cenoura, folha de couve-flor etc.

Vegetais: Cenoura, pimentão, ervilha, aipo, abóbora, nabo etc.

Frutas: Maçã, manga, pera, banana, amora etc.

Sementes e Grãos: Aveia, ervilhas, nozes, grão de bico, soja etc.

Coelhos também são animais famosos por realizarem a cecotrofia, ou seja, a ingestão realizada diretamente do ânus de fezes noturnas amolecidas, sendo estas altamente ricas em vitaminas e aminoácidos essenciais para suas sobrevivências.

Lembrando que todo e qualquer tipo de alimento ofertado deve ser de boa origem, não conter mofo ou data de validade vencida, assim como a introdução de um novo alimento deve ser feita de maneira gradativa.

Manejo Reprodutivo

Os machos de coelhos possuem abertura genital arredondada e protuberante, enquanto nas fêmeas a vulva é alongada e pouco evidente. O estiramento da região perineal possibilita uma clara identificação do ânus e estruturas genitais, permitindo a exposição do pênis. As bolsas inguinais dos machos adultos são desprovidas de pelos e localizam-se lateralmente à linha anogenital.

Outras características morfológicas, como p. ex. cabeça mais volumosa nos machos e as dobras de pele sob a mandíbula mais volumosas nas fêmeas, integram os aspectos de dimorfismo sexual da espécie.

As fêmeas apresentam ovulação induzida e podem parir desde os seis meses de idade, contudo possuem períodos de receptividades de 7 a 10 dias, seguidos por um período de 1 a 2 dias de inatividade, durante os quais os folículos novos amadurecem.

O período de gestação dura pouco menos de seis semanas, cerca de 30 dias, e em cada uma das quatro ou seis ninhadas anuais nascem de quatro a oito filhotes, que são chamados de láparos.

Os láparos nascem pelados, cegos e surdos, e em cerca de dez dias de vida já estão totalmente aptos ao meio. Durante todo este período, a fêmea os mantém no ninho que cava no solo, forrando-o com capim e seus próprios pelos. Ela somente deixa o ninho em busca de alimento, porém nunca se distancia do mesmo. Após duas semanas do nascimento, os láparos abandonam o ninho.

Cerca de 10 a 12 horas após ter parido a ninhada, a fêmea já encontra-se apta para uma nova cópula, mas em 60% das gestações os embriões são reabsorvidos pelo organismo da mãe, principalmente quando há déficits no manejo ambiental, nutricional e sanitário das matrizes.

Manejo Sanitário

Até o presente momento não existem vacinas disponíveis para o uso em coelhos no Brasil. Contudo, exames clínicos e laboratoriais periódicos, principalmente o coproparasitológico, são recomendados em um intervalo mínimo de 6 meses.

Todo o recinto ou gaiola devem ser limpos diariamente, lavados com água e sabão, desinfetados com hipoclorito de sódio a 5% no volume de 30mL diluído em 1L de água e terem seus substratos trocados.

Cuidados especiais são necessários com os láparos e animais desmamados. O ninho deve ser desinfetado antes de ser colocado na gaiola e mantido limpo durante seu uso. Os animais desmamados devem permanecer em seus respectivos recintos durante algum tempo, diminuindo o estresse representado pelo desmame.

Aconselhamos que em qualquer mudança perceptível no comportamento do seu animal, este deve ser encaminhando para um médico veterinário capacitado a avaliar e tratar da saúde do seu coelho.

Lembramos também que o contato dos seres humanos com animais domésticos ou exóticos tem aumentado consideravelmente, podendo influenciar o aumento ou o surgimento de zoonoses, doenças transmitidas de animais para os homens. Sendo assim, medidas básicas de higiene devem ser estabelecidas para uma boa convivência com seu pet.

Legislação

Os coelhos europeus e suas raças são considerados animais domésticos para fins operacionais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA. Sendo assim, a sua posse e manutenção são permitidas sem a necessidade de documentação específica.

Porém, é expressamente proibida a soltura ou introdução de animais da fauna exótica natureza, estando o infrator sujeito às penalidades previstas nas leis n. 6.938/81 e n. 9.605/98.

Dr. Rodrigo Filippi Prazeres
Médico Veterinário, CRMV/SP 19978

Referências Bibliográficas

Harkness JE, Wagner JE. Biologia e clínica de coelhos e roedores. 3ª ed. São Paulo: Editora Roca; 1993. 238p.

Quesenberry KE, Carpenter JW. Ferrets, rabbits, and rodents – clinical medicine and surgery. 2nd ed. Missouri: Saunders; 2003. 461p.

Sitges PGI. Pequenos mamíferos. In: Aguilar R, Hernández-Divers SM, Hernández-Divers SJ. Atlas de medicina, terapêutica e patologia de animais exóticos. 1ª ed. Trad. de Rodrigo Fernandez Diaz e Luciana Ohara Camignotto. São Caetano do Sul: Interbook; 2006. p.265-315.

Vilardo FES. Lagomorpha (coelhos, lebres e lebres-assobiadoras). In: Cubas ZS, Silva JCR, Catão-Dias JL. Tratado de animais selvagens – medicina veterinária. 1ª ed. São Paulo: Editora Roca; 2007. pp.415-431.

Walker EP. Mammals of the World. 3rd ed., Vol. II. Baltimore: Johns Hopskins University Press; 1975. 1500p.




2 comentários:

  1. Olá,

    Adquiri recentemente uma coelhinha.

    Quando ela veio pra minha casa, suas fezes eram clarinhas, quase brancas e bem sequinhas, mas agora estão escuras e aparentam serem mais úmidas. Quando pego com um pedaço de papel não demonstram umidade, mas é só na aparência.

    Será que pode ser devido a alimentação?


    Outra questão, ela não deixa eu cortar as unhas. Sempre que vou fazê-lo ela se irrita e chega a mordiscar minha não.
    Qual a sugestão nesse caso?

    PS: Espero que possa me ajudar.
    Obrigada.

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