segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Clamidofilose Aviária

A clamidofilose é uma doença transmissível que afeta não só as aves, mas também ao homem, caracterizando-a como uma zoonose. Já foi relatada em aproximadamente 160 espécies de aves, sendo os integrantes da família Psittaciformes os representantes de cerca de 25% destas espécies. Nos psitacídeos, esta doença pode ser denominada psitacose ou febre dos papagaios, já em outras aves também é chamada de ornitose.

Seu agente etiológico é a bactéria Gram negativa Chlamydophila psittaci, um microrganismo intracelular obrigatório que acomete aves, répteis e mamíferos, e que possui um ciclo completo de vida que dura entre 48 a 72 horas, explicando a capacidade de produzirem infecções prolongadas e geralmente sub-clínicas.

Em virtude do pequeno tamanho e do parasitismo intracelular obrigatório, as clamídias foram confundidas com vírus ou com Rikettsias até os anos de 1960, sendo denominadas Miyagawanella ornithosis, Bedsonia e Neo-Rikettsia.

A principal via de transmissão de aves cativas ocorre através da inalação do organismo em forma de aerossol de fezes secas ou secreções respiratórias de aves infectadas. Porém, outras formas de infecção são atribuídas à ingestão água ou alimentos contaminados pelo microrganismo. A virulência e patogenicidade variam conforme a cepa infectante, grau de exposição e fatores relativos ao hospedeiro e ao ambiente.

Os sintomas que a caracterizam são vários, desde a doença respiratória, sinusite e conjuntivite, à diarreia e dilatação abdominal, também ocorrendo infecções assintomáticas. Não há sinais patognomônicos para clamidofilose aviária, por isso a doença é facilmente confundida com infecções bacterianas e virais, apresentando infecções severas com altas taxas de mortalidade.

As aves doentes podem apresentar depressão, anorexia, desidratação, blefarite, ceratoconjuntivite, hipotermia, urticária, asas pendentes e tremores, além de transtornos respiratórios, digestivos, urinários e neurológicos. Para muitos pesquisadores, dependendo da evolução destes sinais clínicos, a doença pode ser classificada em superaguda, aguda, crônica e inaparente.

O diagnóstico pode ser feito através do histórico, sinais clínicos e, atualmente, a utilização do método de Reação em Cadeia da Polimerase (PCR). O exame radiográfico evidenciando esplenomegalia ou hepatomegalia, em aves que apresentam os sinais clínicos supracitados, pode ser sugestivo de clamidofilose aviária. O isolamento da Chlamydophila sp por cultura requer laboratórios especializados, sendo de pouca utilidade prática na rotina da clínica veterinária.

O tratamento é obtido principalmente através do emprego de antibióticos corretos, respeitando suas ações, vias, doses, frequências e períodos de administração. Além disso, outros cuidados devem ser tomados, como p. ex. a manutenção higiênica diária das instalações e seus utensílios, evitando acúmulo de dejetos e restos alimentares; a observação e o isolamento de todos os filhotes nascidos de mãe e/ou pai contaminados; a quarentena para aves recém-adquiridas; um excelente manejo ambiental e dietético, assim como o já citado sanitário; e tratar e isolar todas as aves positivas ou suspeitas do plantel.

A clamidofilose representa uma das principais zoonoses de origem aviária, apesar da incidência em humanos ser muito baixa quando comparada ao número estimado de aves portadoras. Sendo assim, deve ser considerada como possibilidade de diagnóstico sempre que houver casos de aves doentes ou casos de mortalidade súbita.

Dr. Rodrigo Filippi Prazeres
Médico Veterinário, CRMV/SP 19978